top of page

Tempestade na Lagoa dos Patos- Tahiti

Voltávamos de umas férias na Lagoa Mirim, depois da última reforma do Tahiti, que passou a contar com um calado de 1,10m e com 500 kg de lastro. Para um barco de 22 pés é muito bom para enfrentar o mar.


Chegamos ao Veleiros Saldanha da Gama à tardinha pra pernoitar e fazer o percurso até Rio Grande no outro dia. Fim da excursão, estávamos a noite no trapiche, conversando e tomando chimarrão com o amigo Guaraci, do veleiro Congo ,estava uma noite linda, estrelada e quente. Minhas filhas estavam brincando na volta do barco, quando de repente entrou uma rajada de vento, muito forte e quente, mas não durou mais do que 20 segundos, assim como veio se foi. Deveria ser de oeste ou noroeste, ficamos sem entender o que estava acontecendo, pois a noite continuou estrelada, linda e sem vento.


No outro dia a tripulação levantou cedo e arrumamos as “tralhas” para partirmos para Rio Grande, a Mirella, a Marlene, a Graciela e eu.


Saímos com um sudoeste fraco, de mestra e genoa I. Chegamos na barra de Pelotas e, na Setia Norte o vento rondou para noroeste e apertou um pouco. Tirei a genoa I e coloquei direto o storm. O vento seguiu apertando, obrigando a sacar fora a mestra. Ficamos só com o storm na proa .


Para voltar, de proa, seria brabo e para seguir era quase popa. Quando chegamos na Setia Sul o vnento rondou para sudoeste e “baixou o cacete”, de não agüentar nem o storm na proa. E de nada adiantaria ligar o motor para abrigar-me na Ilha da Torotama. Tive que virar em popa, em “árvore-seca”, e pegar o rumo das Capivaras, pois lá tenho meus amigos pescadores, que me ajudariam a abrigar-me atrás do cais das salgas.


Saímos surfando, passamos pelo meio das andanas sem poder desviar de maneira abrupta, tamanha a velocidade que o barco desenvolvia. A Mirella e eu vínhamos vidrados, olhando para a proa, procurando alguma andana que tivesse amarrada para poder dar tempo de desviar. As gurias vinham fechadas dentro da cabine, brincando, nem estavam aí para o vento ou o balanço do barco, achando engraçados os coletes salva-vidas. Pegaram umas canetinhas e fizeram desenhos nos coletes delas.


Em frente às Capivaras tinha um barco fundeado no canal, com a ancora no baixio em frente. Tentei entrar na popa dele, mas não deu certo. Não tinha ninguém para ajudar a pegar o cabo e assim mesmo as ondas eram muito altas. Aí fui para junto das salguinhas. Consegui alcançar um calão bem forte, ao lado de uma delas, mas a quilha, que tinha 1,30m batia no fundo. Coloquei a escada na popa e fui para terra, com uma guria em cada ombro e a Mirella atrás. Quando chegamos na praia o pessoal estava colocando âncoras com cabos para afirmar os telhados e não levantar vôo. Meus amigos já estavam terminando esse trabalho e levamos a Mirella e as gurias para a casa de um deles. Aí eles foram comigo para a praia, a fim de colocar o Tahiti em um local com mais profundidade.


Foto da localidade das Cavivaras-, 2020.


Colocamos um cabo bem forte na proa e a outra ponta em cima do trapiche, pois dava para ficar na revessa, ficando protegido pela salguinha. Assim mesmo, às vezes a quilha batia no fundo.


Não dava para sair dali nem a motor, nem rebocado. O negócio era ficar ali até acalmar o vento.


Coloquei três cabos bem fortes na proa e amarrados ao cais em pontos diferentes, mais as defensas na proa, pois quando estirava, os cabos ficavam fininhos e o barco vinha de encontro ao cais, com uma velocidade que eu tinha que ajudar a frear para não quebrar tudo. Passei o resto da tarde ali, cuidando para não bater.


O pessoal havia retornado para suas casas e não dava para sair. Fiquei sozinho ali, cuidando tudo, do barco, do cais...


A primeira noite passei toda no cais, na proa do Tahiti, lá pelas 02:00 horas da madrugada saiu a lua, a água começou a encher e complicou mais ainda a situação, pois o barco atravessava mais na onda.


Foto da localidade das Cavivaras-, 2020.


Amanheceu e o vento continuava forte. A Mirella depois me disse que no dormitório da casa tudo se mexia e isso que era de madeira dupla, bem forte. Enfim, segui ali o dia inteiro, só comendo bolachas e refri, não tinha condições de ir em terra. Anoiteceu e o vento ficou ainda mais furioso. Comecei a ver as salguinhas desmoronando. A água batia na parte da frente e saia na parte de trás.


A salga onde eu estava chegou a estalar várias vezes. O Tahiti quebrou três tabuas do trapiche com a proa, aí ficou mais difícil e perigoso chegar no barco. Se escutava o barulho das madeiras se quebrando. Estrondos fortes. Fiquei mais alerta ainda para que o Tahiti não quebrasse o trapiche.


Por volta das 07:00 horas da manhã o vento começou a amainar um pouco mais, mas a visão era triste, só sobrou a salga que eu estava, e bastante avariada, eu olhava para um lado e para outro e só via pedaços de pau. Foi o que sobrou das salgas. Na praia os pescadores juntando os pedaços do botes e dos trapiches. Havia 12 embarcações no fundo e outras jogadas na praia. Destruição total! Alguns galpões destruídos, quantidade de madeira boiando por todo lado e outras empilhadas na praia. Mas todos ajudando. Solidariedade total!


Mais tarde me perguntaram se eu queria colocar o barco mais pra fora, pois agora dava condições de manobra. O vento estava amainando e um bote grande me puxou até o calão bem forte. Aí pude ir para terra, comer algo e descansar, pois o vento continuava amainando e, em breve, seguiria para Rio Grande.


Após um belo almoço nos levaram para bordo. Aí, com um ventinho de 12 nós, saímos tranqüilamente com o barco, sem nada quebrado e nenhum arranhão, pois o que bateu no cais foi a ferragem de inox, bem dimensionada, que não deu nem bola.


Quando chegamos no clube ficamos sabendo que um navio grande tinha pego muito mar e vento na altura do Chui, fazendo rebentar os cabos que seguravam os conteiner’s. Além da carga cair no mar, ainda esmagou alguns tripulantes, alguns inclusive morreram. Tiveram que retira-los com um helicóptero da Marinha. Tremenda confusão! Assim foram três dias e duas noites de ventos furiosos.

Fotos da localidade das Capivaras, costa leste da Lagoa dos Patos em outros passeios na mesma época:




 
 
 

תגובות


Post: Blog2_Post

©2020 por Veleiro Colibri. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page