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Tahiti, a primeira viagem após retornar à família e ser reformado, 1983.

Atualizado: 2 de set. de 2023

A saída foi com destino a Lagoa Mirim. Foi numa quinta-feira, pois a eclusa do São Gonçalo estava em reforma e só abriria nesse dia. Estavam na espera o Tahiti, o Karen, do Dr. Altmayer e o Red Lady, do Vilmar Rivoire.

Almocei com eles, pois estava navegando em solitário até Santa Isabel, onde receberia a companhia do primo João Moraes, que seria meu proeiro/cozinheiro, principalmente um amigo que sabe das coisas, e os suprimentos para a viagem.




Passamos na barragem das 17:00 horas, a um caro custo, depois de ficar desde as 09:00 horas da manhã. Seguimos navegando até a boca do Piratini onde fundeamos um perto do outro. Como eu saí às pressas, só tinha sopas prontas e água, além do mais, havia me esquecido dos fósforos e como já era tarde fiquei com vergonha de pedir emprestado para os outros barcos, a sopa misturada com água ficou uma “inhaca”. No outro dia, falei para o Dr. Altmayer e ele me disse: “- Mas amiguinho porque não me chamaste, eu te daria os fósforos sem problema, ainda mais com um barco perto do outro.”

Na sexta feira amanheceu um belo dia e saímos rumo a Santa Isabel, chegando lá por volta das 13:00 horas. Eles seguiram viagem e eu fiquei esperando o rancho e meu tripulante que vinha por terra.

No sábado às 12:00 horas chegou o primo e o rancho, ai ficou melhor. Saímos no Sangradouro, rumo a Ponta Alegre, o vento era nordeste calmo. Passamos a Ponta Alegre e aterramos para não pegar ondas altas, já que ali o vento seria de terra. Seguimos viagem pois estava uma ótima navegada. Passamos pelas Bretanhas e fomos dormir na Ponta Negra. Quem passa tem uma enseada e dá abrigo da onda. A 01:00 hora da manhã jantamos e descansamos.

Domingo despertamos as 06:00 horas da manhã, e com um nordeste calmeiro levantamos o balão e seguimos viagem passando pela Alagada do Juncal. Quando estávamos entre Juncal e Ponta Santiago chamou pelo radio o Dr. Altmayer e perguntou:

“- Onde estás amiguinho?”

“- Estou entre Juncal e Santiago.”

“- E quando saísse do Sangradouro?”

“- Ontem à tarde.”

“- Ah! navegasses à noite né!?”

“- Estava aproveitando o luar.”

“- Nós estamos dentro do rio Jaguarão e vamos a cidade abastecer e comer um churrasco. Não queres vir?”

Agradeci o convite e segui no meu “tranquinho”.

Neste meio tempo o barômetro arriou, estávamos perto da Ponta Santiago e próximo dali tem a Calderinha, um ótimo abrigo. Entramos, fundeamos e fomos almoçar.

Terminado o almoço não deu em nada e o barômetro começou a subir novamente. Eu disse ao primo: “– vamos tocar de novo que a borrasca não é para agora.”

Seguimos fazendo Santiago, bóia do Taquari, Ponta Canoa e Afogados onde chegamos a noite e o barômetro começou a descer novamente.

Eu disse ao João:

“ – Acho que vai encrencar feio mais tarde! Estamos a onze milhas do Cebollati. Vamos tocar?” - Ele topou.

Saímos na boa, só que eu estava com uma bússola pequena que o amigo “Pilecão” havia emprestado. Ela não tinha iluminação e tinha de ser colocada no fundo do cockpit. Imaginem deu até dor no pescoço. Quando estávamos perto, começou a ficar feio e resolvemos entrar na Laguna Guacha, que fica bem pertinho. Quando entramos na Laguna só deu tempo de amarrar as velas e caiu aquela água tocada de vento sudoeste. Passamos a noite ali, tranqüilos, sem uma ondinha sequer.

Quando amanheceu, o pampeiro estava danado. Rinzamos a grande e colocamos uma buja pequena na proa. Foi um bordo pequeno e na virada já estava com o mangrulho do Cebollati na proa. Não chegou nem a fazer muito mar, pois tinha abrigo da costa.

Às 16 horas da tarde estávamos de banho tomado no Cebollati. O pessoal levou três dias para chegar lá e gastaram combustível que foi uma loucura.


A lição que tirei deste episódio é que quando está bom vai tocando e deixa para curtir aonde tem abrigo. Sempre na Lagoa a gente tem que ter uma certa velocidade de cruzeiro, não dá para simplesmente ficar boiando.

Um dos grandes incentivadores e profundo conhecedor da Lagoa Mirim, o já falecido Waldir Fonseca, sempre dizia:

“- Se navega até umas três horas da tarde, depois se começa a pensar nos abrigos, pois nas terras baixas, à noite, os arroios se confundem com qualquer coisa.”

Ainda mais naquele tempo que não tinha GPS e a navegação era feita na estimada e na isobática.

Na volta, saímos no sábado de lá e ficamos na barra do Cebollati até as 14 :00 horas por causa da chuva, depois tocamos até Ponta Canoa, que é um ótimo abrigo, além de ser um lugar muito bonito.

Domingo saímos dali e entramos no Sangradouro por volta das 23:00 horas. Viemos a dormir na barragem. Pensando que o serviço da barragem já estava pronto, os funcionários vieram nos avisar que a barragem abriria só dali a uma semana. Em meia hora baixei o mastro e passei em uma comporta do lado, que estava baixa, destinada a botes e lanchas pequenas. Atracamos no iate clube Veleiro Saldanha da Gama para colocar o mastro e seguimos viagem para Rio Grande. Não me apertei nessa.

E assim foi a primeira viagem do Tahiti após eu tê-lo comprado. Esta viagem foi em homenagem a meu mestre e pai, que participava todos os anos da Semana de Turismo, no Uruguay.

Conheci a Mirella, minha esposa, numa dessas “Semanas de Turismo”.

 
 
 

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