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Primeira viagem com o Colibri

A primeira velejada do Colibri foi ao Rio Cebollati. A tripulação foi o Lorenzo, a Marlene (minha filha mais velha), a Graciela (minha filha caçula), e o Daniel, hoje meu genro (na época um belo agregado).

Saímos de Rio Grande as 13.30 horas, sem o Lorenzo, que pegaria o barco em Pelotas no outro dia. Aproveitamos e levamos junto um amigo, o Valdir Mattos, que até aquele momento só havia ajudado a limpar as caracas do fundo do barco.

O dia estava muito bonito, com vento norte e correnteza de vazante. Tivemos que tocar motor até a barra de Pelotas, onde entrou um vento nordeste, aí fomos com o spinaker até o iate clube Veleiro Saldanha da Gama. No outro dia chegou o Lorenzo. Saímos do clube as 07:30 horas. Passamos a barragem no horário das 09:00 horas e fomos até o Sangradouro, quase todo o percurso de spinaker em cima.

Chegamos lá as 17:00 horas e resolvemos tomar banho na prainha, onde conversamos com um velho eremita que vivia ali. Ele se escondia entre as árvores, só aparecia quando adquiria confiança nas pessoas. Dormimos e saímos bem cedo, no terceiro mangrulho tiramos o motor e fomos ate o mangrulho da Ponta do Salso onde começou a chover e o vento virou de proa. Fizemos o banco da Ponta Alegre e pegamos o rumo da Ponta Negra. Nessa época passei um bom tempo sem enxergar, pois devido a uma catarata no olho eu navegava pelos olhos das filhas, que inclusive conhecem navegação estimada e atualmente com o aparelho de GPS, que é uma beleza, por três viagens para a Lagoa Mirim foi tudo por conta delas, depois operei e ficou tudo legal.

Seguindo no través do mangrulho do Juncal, voltou a chover e a ventar, coisa de uma hora e parou. Tentamos entrar na Caldeirinha, mas a água estava baixa, então rumamos para a Ponta Santiago e fundeamos a uns cinqüenta metros do mangrulho, com abrigo do banco, já que o vento era leste. Ali ficamos, contemplando a paisagem da Ponta do Muniz e as luzes do balneário Lago Merim.

No outro dia passamos pela Ponta Canoa e Afogados com um sudoeste forte, mas dava para vencer. Sempre acompanhados pela chuva, viramos de bordo no rumo da costa uruguaia, na altura do Sarandi Grande. Quando chegamos na costa, como o vento era de terra, subimos tudo o que deu. Ali não tinha mar, só que pegamos a pontinha do banco, mas sem problemas, saímos e abrimos um pouco. Não tínhamos ecobatímetro na época, pena que a lagoa estava baixa e tivemos que abrir mais da costa por causa da Ponta do Quiroga, isso somado com a chuva, a pouca visibilidade e com muito vento, acabamos passando da entrada do Cebollati, onde deveríamos avistar um mangrulho, todo em pedaços, e ao fundo, a bombordo da entrada, cômoros de areias brancas. Mas não se enxergava nada! Passando a entrada vem a Ponta do Gabito e uma enseada grande. Na outra extremidade é a Ponta do Magro ???? o nome ???? Resolvemos aterrar, pois de tanto o barco balançar os filtros de combustível estavam entupindo.

No fundo da enseada, já no calmo, estava fundeado um bote de pesca, com casco vermelho, portanto era uruguaio. Chegamos perto para colher informações, amarramos na popa e, começamos a conversar em espanhol. Perguntei de onde eram e responderam, que eram de Jaguarão. Foi aí que percebemos que passamos o tempo todo falando em espanhol sendo que a tripulação, de ambos os barcos, era de brasileiros. Foi aquela risada geral. Eles eram brasileiros casados com uruguaias e tinham licença para pescar tanto no lado brasileiro quanto no lado uruguaio. Pedimos permissão para permanecer amarrados a sua popa ate o outro dia eles disseram que não teria problema. Então o amigo Lourenço, sempre muito cordial, pegou um balde e colocou bolachas, patê e outras coisinhas para comer e um litro de cachaça e limão para fazermos uma caipirinha para os amigos. Eles tinham um cachorro que só deixava que estranhos subissem à bordo com a permissão deles. Quando o Lourenço retirou a bebida do balde eles começaram a rir. Perguntamos o motivo e eles levantaram uma tapagem, mostrando três engradados da mesma bebida. Acho que tomavam por água. Mas, de qualquer maneira, disseram: “- Vamos tomar da sua! Deve estar mais fresquinha!” E caíram na risada. Nos mostraram a quantidade de javalis à beira da praia e disseram que quando querem comer um bom churrasco, caçam e carneiam, e que o sabor é semelhante à carne do porco. Eles nos informaram, também, que havíamos passado aproximadamente duas milhas da entrada do Cebollati e que teríamos de retornar até a Ponta do Gabito, aí então era só seguir a borda do banco que entraríamos no canalete da entrada sem precisar ir até o mangrulho. Dito e feito! Passamos na boa! Naquele tempo não tínhamos GPS e nem odômetro.

Conforme entramos no Cebollati começou a ventar e a chover, com a correnteza forte de vazante. E toma bordo e mais bordo! Lourenço, Daniel e Marlene cozinhando e equilibrando tudo la dentro. A Graciela e eu lá fora, molhados até os ossos.

Estávamos próximo de Charqueada, mas com pouco combustível, pois todo o trajeto foi feito com vento de proa aumentando consideravelmente o consumo. Para economizar, no bordo positivo desligávamos o motor e no negativo ligávamos novamente para não derivar muito em virtude da correnteza.

Falamos por rádio com o Vilmar Rivoire, o qual prontificou-se a trazer mais combustível, caso precisássemos, mas já que estávamos perto ele ficou aguardando. Foi engraçado, pois quando chegamos no través da balsinha e desengatei a marcha o motor apagou, sem gasolina. Aí foi aquela risada.

A Semana de Turismo no Cebollati é muito legal. Vem gente de todos os lugares para acampar e esperar a regata à remo que sai da cidade de Trinta e Três.




A Mirela ficou trabalhando, mas foi para o feriadão. Fizemos aquela festa! Ficamos de quarta à sábado, pois saímos depois da chegada da regata de caiaques e partimos para dormir na barra, atrás da Ilha Brasileira.

Saímos cedo da manhã, com bom vento e entramos na barra do Rio Jaguarão as 17:00 horas, chegando no iate clube por volta das 21:00 horas, quando chegamos chamamos pelo VHF o Beto, funcionário do clube, para acender uma luz em terra, só então conseguimos enxergar o cais para atracar. Estavam por lá, também, o pessoal de São Lourenço.

No retorno para Rio Grande a tripulação mudou, com meu irmão Beto, Vilmar e a esposa Zilda, e eu. Saímos do iate clube de Jaguarão as 08:00 horas e fomos até o porto. De lá caminhamos até o posto de gasolina da ponte Mauá, onde compramos combustível e retornamos ao barco.

Saímos para a barra do rio Jaguarão com muito vento, mas dentro do rio é tranquilo. Quando chegamos em frente a Ilha de Santa Rita, estávamos com uma bóia enfilada na popa e a outra na proa, mas quase chegando nela pegamos a ponta do banco de areia e como tinha muito vento, acabamos sendo jogados para cima dele. Levantamos as velas para ajudar a sair do encalhe, pois estava pertinho do canal. Nesse meio-tempo, estava passando um bote de pesca e se ofereceu a dar um puxão. Aí foi fácil! Seguimos juntos até próximo da barra, onde ele entrou na sanga do Mendes e nós seguimos. Ficamos fundeados no abrigo da árvore seca. Estava lá, também, o Vander, amigo de anos de navegadas e sua esposa, a Chiquinha. Conversamos por horas, até anoitecer. O barco dele era o Sumiço, um Madruga 24'.

O outro dia amanheceu mais furioso, mas como era popa e era cedo, estava na medida. Saímos 08:30 horas da manhã, e como a água estava baixa, tínhamos que fazer o mangrulho do Juncal, que é navegação a canal. Até lá fomos em popa, depois do Juncal deu um través até a Ponta Negra para ficarmos mais protegidos pela costa. De lá fomos direto a Ponta Alegre, um pouco mais arribados. Depois da Ponta Alegre deu para tirar o rizo da mestra e colocar um storm na proa, pois até ali fomos com a vela grande na segunda forra e surfando. Eu nunca tinha visto um barco planar em seis, sete ondas na mesma planada. A arrebentação na proa, quando o barco caía na cava da onda fazia com que a água viesse na altura da escotilha de proa, aí subia a velocidade novamente e o chuvisco saía de meia nau para a popa com o vento trazendo para cima do barco. Passamos o tempo todo molhados, não deu para largar o timão até a Ponta Alegre. Ele zunia de uma maneira terrível, e mal mexia dois ou três graus e parecia que estava guinando quarenta graus, tal a velocidade que desenvolvia. Estava muito perigoso! Entramos no Sangradouro eram duas e meia da tarde. Fizemos 42 milhas em cinco horas de navegada. Foi um absurdo! Nunca andei tão rápido com esse barco!.Não vou tentar adivinhar o quanto estava andando na planada, só sei que saía a metade do casco pra fora d'água, e quando a proa enterrava parecia que levava horas infinitas para aparecer o convés até a altura do mastro. Coisa feia de se ver! Daí entramos no calmo do rio e chegamos dez horas da noite na barragem.

No outro dia passamos a barragem as 09:00 horas da manhã. e as 14:00 horas estávamos em Rio Grande, atracando no iate clube. Felizmente o único estrago foi que arrancou as talas com as laterais onde são presas. Não ficou uma para contar historia.

 
 
 

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