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Encalhada no Banco do Juncal

Saímos, o primo Vilmar e eu, a fim de deixar o Colibri em Cebollati antes da Semana do Turismo. Estou acostumado a deixar o barco lá, pois é muito tranqüilo e fica bem cuidado. Partimos de Rio Grande-RS as 06:00 horas da manhã e fomos dormir no Sangradouro, no outro dia amanheceu um nordeste e fomos até perto da Ponta Negra, quando escureceu de repente e o vento virou para noroeste, aí começou a puxar e a chover forte, mas seguimos com a mestra rinzadinha e calçado no motor. Passamos o mangrulho do Juncal e daí fomos bordejando até a barra de Jaguarão. Chovia e ventava muito neste ultimo trajeto, estávamos pertinho do mangrulho da barra quando de repente trancou tudo, o motor e o barco. Era uma rede muito grande que estava alinhada no vento, a uns cinqüenta centímetros abaixo da linha de água. Tivemos que largar os ferros, baixar a mestra e esperar para poder fazer alguma coisa, já que chovia e ventava muito. Seria impossível querer safar a rede, inclusive já estava anoitecendo. Achei melhor passar a noite e esperar o dia clarear, de repente o vento já estaria mais calmo.



Se enxergava o lampejo do mangrulho piscando. Ao menos estávamos no canal. O vento começou a puxar bem mais forte e lá por 01:30 horas da manhã arrebentou os cabos das âncoras e o barco saiu em árvore seca. Tive que ir amarrado até o leme para aquartelar o barco para bombordo, larguei baldes e cabos pela popa, e mais a imensa rede de arrasto. O barco estava adernado como se tivesse com todas as velas em cima. Pelos meus cálculos passaríamos pela alagada do Juncal, embora sendo estreita. Andamos quase sete milhas em uma hora, e de lado.


Estávamos deitados quando ouvimos um barulho. O barco havia “sentado” no banco do Juncal. Não tinha condições de sair lá fora. Estava demais, só consegui sair para esticar os ranners, para o mastro não sair voando. Clareou o dia, parou de chover, mas o vento continuava muito forte. Estávamos a uns 100 metros da alagada. Descemos e caminhamos em volta do barco com água de coxa. A quilha fez um buraco e se acomodou, o leme também. Estávamos a 20 metros do fundo, e o barco estava com vento na bochecha de boreste a uns 45°. Dava para caçar as velas para ajudar, assim o barco ficava quieto sem bater no banco. Levantamos a mestra rinzada na segunda forra e a genoa II na proa. O motor não adiantava ligar, pois o hélice estava fora d’água, mesmo estando no centro do barco. O negocio foi deixar as velas no ar, arrumar a bagunça, secar as roupas e esperar que o tempo melhorasse e aparecesse um bote para dar um puxão.


O almoço foi improvisado com um fogareiro de reserva. O ângulo de inclinação era de uns 50°. Por sorte o barco não fez uma gota de água, mas para dormir era um problema, o Vilmar dormia em um beliche central e se jogava no costado do beliche, mas eu dormia na proa, com a cabeça para cima, apoiando os pés na lateral, amanhecia com as pernas encolhidas, pois não agüentava o peso do corpo. Nem o banheiro dava para usar, tinha que ser lá fora, mesmo com aquele frio.


O VHF perdeu a antena, então não tinha como chamar o Iate Clube de Jaguarão. Por sorte as comidas eram ótimas, meu primo cozinha muito bem!


No segundo dia, à tardinha, o vento amainou um pouco e o céu começou a limpar.




Amanheceu o terceiro dia, nós saímos para o convés e avistamos ao longe o que parecia ser um bote de pescador. Peguei o farol de milha e comecei a fazer sinal, acho que foi por mais ou menos 10 minutos e vimos a embarcação se mover, parecia que vinha em nossa direção. Fiz mais uns 5 minutos de sinal, até ter certeza de que viria no nosso rumo. Estavam tão longe que custaram a chegar. Esperei-os na ponta do banco, fundearam e desligaram o motor para conversar. Eles disseram que estavam recorrendo as redes, pois não puderam sair por dois dias em função do vento, mas avistaram um sinal de luz, uns reflexos e ficaram curiosos com o que seria. Acharam depois que seria o pessoal de Jaguarão-RS, por isso resolveram investigar. Expliquei toda a situação para eles e montamos um plano de ação para tentar safar o Colibri.


Passamos um cabo até eles e, quando eu os avisasse, eles iriam dando máquina aos poucos, assim o barco iria sair aos poucos e quando alcançasse maior profundidade eu faria sinal para eles pararem, pois estávamos em cima do banco, no través do Colibri, com duas adriças e cabos bem compridos para ajudar a aderná-lo, fora as velas todas em cima. Antes, aqueci um pouco o motor, embora ali, naquele momento, não ajudaria em nada. Eu ligava ele todas as noites para carregar as baterias. Ah! Os metros de rede estavam todos em um saco, dentro do cokpit, fediam tanto que acho que tinha até pedaços de peixe podre.

Bem, fomos para bem longe com as adriças, por cima do banco, com água de joelho e começamos a fazer força. Fiz sinal e eles começaram a puxar e acelerar. Deu umas rajadas fortes, mas o barco estava encostado com o casco no banco. De repente ele deu um salto e nós caminhamos, acompanhando os pulos dele. Andou um pouco mais e... mais um pouco... e nós caminhando no través dele. As pernas já estavam bambas. Ele não precisou mais de 20 metros e, de repente tentou disparar. Fiz sinal para que o bote parasse de puxar, pois estava com as velas caçadas e o leme amarrado, eles viram meu sinal e tiraram a máquina. Ai ele parou, ainda encalhado, mas com pouca inclinação. Já estava quase boiando. Recolhemos as adriças que estavam emendadas com muitos cabos e quando subimos pela escada na popa estávamos com as pernas tremendo de tanto esforço feito. Fiz sinal de positivo para o bote e ele tocou motor e mais uns cinco metros... estávamos fora do banco!! Recolhemos o cabo de proa e quando chegamos pertinho eles nos perguntaram se queríamos um reboque, pois estavam indo rumo à barra do Jaguarão para safar os peixes da rede. Aceitamos prontamente!


Chegando dentro da barra, na prainha (é o lugar que eles gostam de safar as redes) ai conversamos bastante. Na hora de seguir perguntamos quanto custou o serviço e eles disseram que “- de jeito nenhum!”. Insistimos em pagar pelo menos o óleo diesel e disseram: “- no mar poderia ser um de nós que precisasse de ajuda!” Então dei a eles um presente singelo: uma aguardente e um binóculo, que era em duas partes, dei para eles uma e fiquei com a outra parte, a qual uso até hoje. Nos despedimos, virei o motor, engatei para vante e vibrava tudo. Desliguei em seguida, pulei na água e constatei que só havia uma pá. Como era de fechar, uma foi para o fundo da lagoa e o pior é que quando virei o motor a pá estava lá, o que deve ter acontecido é que o pino deve ter se afrouxado e no momento que recebi o reboque ela se fechou, mas com a turbulência da outra embarcação ela perdeu o pino e a pá foi junto. Tudo bem! Levantamos as velas e saímos bordejando pelo rio Jaguarão.


Foram 12 milhas rio acima, bordejando entre os espigões. Chegamos 16:30 horas da tarde no ICJ. Em seguida mergulhei e tirei o eixo com o que sobrou do hélice, pois como o motor é no centro do barco, no pé do mastro, o hélice fica longe do leme, então sai fácil. Colocamos um tarugo no túnel e tudo bem. Pegamos o ônibus e retornamos para Rio Grande-RS.


Retornamos na outra sexta-feira com um hélice de três pás. Que diferença! Quase não cai a velocidade, mesmo com vento e onda de proa. O rio estava muito baixo, tinha lugares em que encostávamos de proa no banco de areia grossa e saíamos caminhando, procurando um canalete mais fundo. Andávamos com o barco “à cabresto”, caminhando dentro do rio. Isto foi na Volta do Periquito e depois perto das Ilhas Três Irmãs. Ficamos na prainha da barra, junto com o Vilmar Rivoire, da Chalana e outros barcos que também iam para o Cebollati.


Amanheceu com um nevoeiro forte e só conseguimos sair por volta das 11:00 horas da manhã. A Chalana, na época, estava balizando a Lagoa Mirim e o rio Jaguarão. Eles iriam colocar uma bóia na ponta do banco do Muniz e outra na ponta do banco do rio Taquari. Nós tocamos sempre, para aproveitar a viagem, pois meu motor era dois tempos e o óleo tinha que ser sem detergente. Era o Ipirol SE. Mas em Jaguarão-RS me fizeram uma boa, como não tinham essa marca me venderam um dizendo que era igual. Engano deles! Ao anoitecer na entrada do Cebollati o motor começou a falhar e como é perigoso entrar com leste que dá popa rasa, fazendo muito mar, eu achei melhor fundear e deixar amanhecer, pois o banco não perdoa. Saindo 5 metros para cada lado do canal o banco nos engole e o mais crítico é logo que passa o mangrulho, depois de uns 100 metros afunda novamente e aí fica bom.


À noite, enquanto o Vilmar fazia a janta, eu tirei as velas do motor e constatei que o óleo não era para o motor, pobre das mães dos frentistas que me venderam o óleo...rsrsrsrsrsrs!


Ao amanhecer entramos sem problemas. Fomos até o porto numa boa. Naquela noite o pessoal da Chalana dormiu no arroio Afogados, que é um excelente abrigo.


Deixamos o Colibri aos cuidados do pessoal da Marinha e de um tio que cuidava e abria o barco todos os dias. Voltamos para Rio Grande-RS de ônibus e retornamos no outro fim de semana, quando acontece o evento da Semana do Turismo, com o festival de folclore sexta-feira, sábado e domingo. Depois, o barco passou mais duas semanas por lá.


Para o retorno do Cebollati fomos de carro, em uma quinta-feira à noite, a tripulação era a Graciela, a Marlene, o Daniel e o Juliano. Pegamos vento e chuva na estrada, mas quando chegamos o rio estava muito baixo e não teríamos condições de sair na barra. Então retornamos no outro dia e deixamos para o próximo fim de semana.


Agora sim! Com mais água no rio nós partimos. O motor continuou dando problemas para pegar, fomos dormir na barra atrás da Ilha das Ratas. Quando fomos sair, de manhã cedo, de novo o motor não quis pegar. Saímos bordejando até perto dos Afogados. Resolvi que o motor teria que pegar de qualquer maneira, mesmo com as baterias arriadas de tanto tentar fazer pegar. Soltei o flange do hélice, soltei o alternador e soltei a descarga para não ter peso de água, o motor de dois tempos se não pegar pode encher a descarga de água, pois não tem válvulas, então pode dar retorno. Consegui virar na corda, deixei funcionando um pouco para carregar as baterias, só com a descarga no lugar, depois montei tudo e ele trabalhou muitas horas. Depois tocamos com vela e motor até a Ponta Santiago, dali o vento rondou mais para a proa, nos obrigando a ir só a motor. No través do Juncal anoiteceu, entramos para o lado da Ponta Negra para aterrar um pouco. Em frente à Ponta Negra tem um buraco que o bidata foi a 32 metros e começou a subir de novo. Como o bidata era novinho e funcionava muito bem, acredito ser um buraco na lagoa, como tem em frente à Ponta Santiago. Passando a Ponta Negra começamos a aterrar, pois mais para costa dá abrigo para o vento de nordeste. A meia-noite estávamos quase no través do farol da Ponta Alegre. Aí fomos para 2,5 metros de profundidade e fundeamos no calminho.


Às 06:00 horas viramos o motor, que ainda estava morninho e entramos o Sangradouro. Deixamos o barco em Pelotas-RS para busca-lo no outro fim de semana. Chegando em Rio Grande-RS, fui examinar o que estava acontecendo com o motor, ai fiquei mais danado ainda, pois todo o problema do motor estava na descarga, que entupiu por causa do óleo. Tinha uns 15% de abertura na descarga o resto era puro carvão. Quer dizer... junto ao coletor não tinha saída e o motor não tinha força para virar. Nunca mais fui atrás de outros óleos, tem que ser o original ou nada feito.


Newton Santos o primo Vilmar Santos.

 
 
 

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