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27 dias na Lagoa Mirin.

Atualizado: 2 de set. de 2023

Outra viagem interessante na Lagoa Mirim foi a ida ao Cebollati com a Mirella e a Graciela, minha filha mais nova, com apenas 4 aninhos de idade. Passamos 27 dias velejando na Mirim.

Eu tinha feito uma obra no Tahiti, coloquei uma quilha retrátil com 1,60 m de calado e 200 kg no torpedo e mais uns 100 kg internos. Fiz o lastro interno em concreto e bolinhas de ferro.

Saímos de Rio Grande eram 13:30 horas com um vento nordeste e a Mirella me pediu que rinzasse a vela caso tivesse vento forte. Eu, respeitando o que me pediu, fui na manha, pois o barco havia recém ficado pronto da obra e eu nem tinha saído para testá-lo. Deixei para testar na viagem mesmo. Saímos com um vento de 18 nós e um pouco de mar. O motor era um Johnson 2 cilindros de 5 hp, o apelido dele era "ET" (do filme " ET, o Extra-Terrestre"), que original, ele tinha um tanque de plástico acoplado em cima que parecia uma cabeça preta. Que bichinho feio! Só pegava fora d'água, e depois que pegava eu jogava ele para dentro d'água e ele seguia funcionando, não tinha reversão e não tinha bomba d'água, era um cachimbo improvisado. O ET era terrível, mas igual fomos lá, tudo bem!

Do iate até o Regatas correu tudo muito bem, do Regatas ao Balizão do Norte tivemos que bordejar. No tempo em que o canal era somente um lameirão. Foi brabo!

Depois do Balizão do Norte foi uma orça acochada até o farolete do Diamante onde toquei reto até a barra de Pelotas. Que lugarzinho para fazer mar! E tudo por causa da saída de águas do Canal do São Gonçalo, que gera correnteza forte. É braba a entrada da barra!

Chegamos as 18:00 horas em Pelotas com tudo revirado dentro do barco. Por causa do mar as coisas começaram a se acomodar no piso do barco.

No outro dia saímos as 07:30 horas do Saldanha da Gama rumo à barragem. Passamos 8 horas na ponte férrea e 09:00 horas passamos tranqüilamente na barragem com um ventinho nordeste legal.

Depois do almoço a Mirella foi lavar a louça em um balde e por descuido os talheres foram para a água. Em frente ao Rio Piratini, estávamos de balão em cima e ela colocou as culpas no balão - “Está muito rápido!”, gritou. Ela deixou o balde escapar com a pressão da água. Eu fiquei quieto, só rindo.

Anoiteceu na Ilha Pequena e começou a chover e a cair raios, ancorei ali mesmo, jantamos e fomos dormir. Na minha frente estava oAcauan, do Albaninho, com o Gustavo, Paulo Hansman, o Alberto e não me recordo quem mais.

Levantamos no outro dia e fomos com um sul calmeiro bordejando até Santa Isabel onde atracamos no contrabordo do Acauan. Lá pelas 16:00 horas nos convidaram para ir até o Sangradouro, para sair no outro dia bem cedinho, eu topei ir de carona até lá. Dormimos dentro do Arroio dos Mosquitos.




Às 06:00 horas da manhã saímos navegando com um ventinho Sul, calmeiro, bordejando em cima do banco do Sangradouro, este banco do lado dos mangrulhos (Norte) é puro barro, uma greda. E para o outro lado, lado de Rio Grande-RS (Leste), é uma areia limpa, branquinha e duríssima. Isto significa que sempre dragaram para o mesmo lado, ou seja, para o lado dos mangrulhos. No centro do canal tem um barro macio que enterra até os joelhos, por conseqüência, se passa com o calado além da conta.

Pegamos uma calmaria e ficamos um tempão em frente a ponta Luis dos Pobres. A Graciela não incomodava, brincava no cockpit. Colocávamos ela no piniquinho dela e ficava ali, curtindo a paisagem, até que liguei o ET e fomos para a Sanga do Alemão, perto da Ponta Alegre. Dormimos bem abrigados e com bastante água.

Recordo de uma passagem aqui em 1968, com o Tahiti. Fomos a Jaguarão, o pai, os primos Luis Ernesto Ernest e Vilmar dos Santos, e eu. A primeira excursão à Mirim com o barco. Nos abrigamos de um temporal que caiu durante a noite e no outro dia ficamos encalhados, por sorte era cedo e a água não tinha baixado de todo. Conseguimos sair com motor e vela.

Seguindo a velejada com a Mirella... Saímos com um vento Sul calmeiro, dei um bordo para fora e despontei o banco da Ponta Alegre e o vento rondou para Nordeste, aí foi beleza! Passamos o farol e rumamos direto para a Ponta Negra. Passamos na alagada do Juncal e entramos na barra do Rio Jaguarão às 16:00 horas e às 20.30 horas estávamos atracados no porto, pois naquela época não existia ainda o Iate Clube de Jaguarão.

Naquele tempo era preciso tirar um passe na capitania do Rio Grande para ir até o Cebollati. Hoje não precisamos mais, basta ir até a Prefectura Naval, em Rio Branco, e dar entrada com a documentação do barco e a identidade de cada tripulante, inclusive eu só retiro na hora de dar a saída.

O porto de Jaguarão é muito pitoresco, saímos caminhando, atravessamos a ponte para fazer algumas compras em Rio Branco e retornamos para o almoço .

Saímos de Jaguarão depois do almoço, rumo a barra, só à vela. Chegamos por volta das 17:00 horas. Ficamos no abrigo da árvore seca, em frente a Ilha Brasileira, um belo abrigo. Ficamos o resto da tarde ali, deixamos a Graciela brincando em terra. Ficou que nem cachorro quando se tira para fazer xixi, corre, corre, ate cansar. Saímos na barra do Jaguarão às 0800 horas com um Sudoeste fraco, passamos pela alagada do Muniz e aí foi um bordo no rumo do Provedor e outro na Ponta Rabotieso. A Mirella estava fazendo a navegação. Em frente a Punta Rabotieso ela calculou que às 17:30 horas estaríamos no Sarandi Grande. Mas antes de chegarmos começou a ventar de Leste e Sudeste a uma velocidade considerável. Chegando em frente ao Sarandi Grande estava perigoso para entrar, pois a onda era de popa e arrebentando. Como eu nunca tinha entrado lá, achei melhor fundear com uns dois metros e meio de água e segurar a peteca como se diz. O barco saltava tanto que não conseguimos ficar de pé. Nos deitamos nos beliches e nos afirmamos no costado para não rolar. Tive que fazer uma sopa na chaleira aquela noite, pois foi o único lugar que deu pra fazer, panela nem pensar. O vento foi até meia noite e acalmou total. Eram 06:00 horas da manhã e o banzeiro ainda continuava. Resolvi sair navegando, pois o barco não parava quieto e não iria adiantar muito ficar ali parado, pendulando. Aproveitamos um ventinho que soprava de Leste, calmeiro. Estava ótimo. Entramos no Rio Cebollati eram 16:00 horas. A Mirella e a Graciela tomaram banho, se arrumaram, prepararam tudo para a chegada ao “puerto”. Minha sogra, meu sogro, e demais parentes estavam esperando para nos recepcionar. Elas estavam eufóricas à bordo! Só falavam na chegada.


Na altura das Três Bocas tem um rio chamado Parao, que é mais largo que o Cebollati e tem mais duas bocas que é o Cebollati e o Furado, que corta caminho. Eu, distraído, entrei pelo Parao e andei um bom tempo até que encontrei uma canoa canadense com dois remadores e perguntei quanto tempo faltava para o puerto. Um olhou para o outro e disseram que teria que retornar ate as três bocas e ai então pegar o Cebollati. O difícil é pensar que já havia passado algumas vezes ali e fui errar justo com a Mirella. Putz! Imaginem a cara da castelhana, toda preparada para ver os seus familiares e da Graciela, arrumada para ver os avós. Anoiteceu e eu ancorei num lugar bonito, mesmo assim não limpei a minha barra. A castelhana estava louca comigo, ficou um tempo no cockpit pescando. Só para a Graciela, com seus 4 anos, tudo era festa. Ainda por cima, acabou a energia das baterias, pois estavam em uso a muitos dias não tinha como recarregar. Jantamos com uma lanterna em cima da mesa apontando para o teto da cabine. Que romântico! (só para mim).

Amanheceu, tudo calmo, saímos com um belo vento, subimos até as Três Bocas e cortei pelo Furado. Chegamos em Charqueada! Foi uma festa, passamos belos dias. Estava lá também a escuna Acauan,que saíra do Sangradouro conosco, às 06:00 horas e entrou no Cebollati à noitinha, aproveitando a calmaria para “dar máquina”.



O regresso foi tranqüilo, saímos a tarde do “puerto” a fomos para a Ilha da Rata, na boca do Cebollati, onde fizemos amizade com um casal de pescadores. Eles nos disseram que, quando saem para pescar, levam galinhas em uma gaiola para ir comendo conforme passam os dias. Inventei de fazer pipoca à tardinha. Eles chamam depororo, e aí eu fiquei abismado, eles tinham um capincho domesticado que os acompanhava para todos os lados. Eles chamaram o capincho pelo nome (não recordo qual) e o capincho comeu na mão deles opororo. Pediram para eu passar a mão na cabeça dele, e eu passei, todo borrado de medo, mas passei.

Saímos da Ilha da Rata pela manhã, com um chuva fina, e atravessamos para os Afogados. Seguimos em direção a Ponta Canoa e fomos dormir no Provedor. É um lugar legal, um pouco baixo, mas abrigado. Choveu toda a noite. Pela manhã parou e então seguimos para o arroio dos Arrombados, que fica depois da Ponta Negra para quem vem do Sul. Entramos à meia tarde e conhecemos outra família de pescadores, estes com os seus filhos juntos.

Amanheceu com sol e ventinho calmeiro. Seguimos para a Ponta Alegre. Ficamos novamente na Sanga do Alemão. Saímos de lá meio tarde no outro dia e fomos para o Sangradouro. Dai o retorno para Rio Grande-RS foi tranqüilo.

Lastimo que tenha que voltar. Minha filha mais velha, a Marlene, teve que ficar em Rio Grande-RS, pois não podia deixar os estudos. Sem problemas. De lá para cá ela já velejou na Mirim que conhece tanto quanto eu, inclusive de velejar para lá comandando o barco enquanto eu trabalhava na oficina. As duas têm bastante conhecimento. Elas muito me orgulham, pois qualquer uma tem condições de pegar um barco e ir aonde bem entenderem. Cada uma começou a navegar com trinta dias de idade e não pararam mais.

 
 
 

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